O último capítulo dos materiais produzidos para o site Grande Prêmio, durante a seleção “O Grande Estagiário 5” é este. Foi pedido que se fizesse uma matéria para a Revista Warm Up, publicação eletrônica, de no máximo 8.000 caracteres sobre o Kart. Acompanhe logo abaixo:
O dia tem uma garoa fina que vai e volta a todo instante. O piloto entra na curva e sente o kart perdendo a traseira na primeira perna de uma chicane. Imediatamente o kartista corrige a saída de traseira e contorna como pode a perna seguinte usando a zebra do outro lado da pista como apoio para não pisar na grama úmida. Esta habilidade e reflexos apurados que um piloto precisa ter só são conquistados com muito treino e um kart. É por isso que este tipo de competição é a base do automobilismo mundial, porque é nela que pilotos conquistam tal controle das máquinas que despejam potência de sobra nas pistas.
Para chegar a Fórmula 1, sonho de uma grande maioria, o kartista terá de enfrentar muitos obstáculos, como por exemplos mais comuns a falta de patrocínio e a “seleção natural” que o automobilismo faz ao longo dos anos sempre pedindo pilotos cada vez mais rápidos, mais experientes e, principalmente, vencedores.
Para que um menino de seis anos comece com toda a estrutura necessária para um dia ser um piloto completo e seguir subindo níveis na escadaria do automobilismo, os pais não medem esforços para que seus filhos tenham o melhor equipamento e conquistar os melhores resultados o mais rápido possível. Além do equipamento, é preciso pensar em um bom mecânico e um treinador, ou então, o preparador, figura que executa estas duas funções.
Mesmo assim a cena de um pai entrando na pista e mostrando o melhor traçado para o filho de seis anos, ou um pouco mais velho, não foi rara enquanto a equipe da Revista Warm Up fazia esta reportagem. Era o garoto apontar na saída da curva e já vinha o pai indicando onde o filho tinha que o colocar o pequeno carro na pista. “Eu acho importante o pai estar participando junto, estar na pista. Vestindo a camisa junto com o preparador” diz o preparador Rodrigo Paixão de Lima, que já trabalha há dez anos na preparação e instrução de garotos que estão entrando no kart. Não basta ficar na grama assistindo e apontando, tem que entrar, pisar no asfalto e mostrar o melhor caminho, mesmo que o kart passe a poucos centímetros de suas pernas.
Os preparadores já são mais cautelosos, e ficam onde o piloto possa ver, mas de um jeito que não possa afetar tanto a integridade física do piloto e do preparador. Quando os preparadores acham o momento conveniente, chamam o menino em uma curva que não esteja aberta para os karts, ou mesmo nos boxes, e passam a instrução, mostram a curva e como contorná-la o mais rápido possível. Quando os outros karts estão longe, o preparador chama o menino e faz ele andar por onde tem que passar com o carro por cima da zebra.
Uma preparação destas precisa de dinheiro. Muito dinheiro. Como em qualquer categoria do automobilismo quanto mais rápido se quer andar mais se gasta. No kart os valores começam na faixa dos R$ 4 mil.
Marnon Andriguetto, pai de Zyon de apenas seis anos e o piloto que executou a cena descrita na abertura da matéria, “Na etapa de Curitiba, que foi a primeira etapa [do Sul Brasileiro de Kart], eu gastei em torno de R$ 7 mil. Foi a primeira corrida dele, então eu tive que comprar várias peças para montar o equipamento”. Na segunda etapa de Zyon, no Velopark, no Rio Grande do Sul, “eu tive que gastar mais seis ‘contos’. Foi mil reais a menos apesar de ter gasto mil reais a mais com a viagem e hospedagem, porque eu já tinha todas as peças e equipamento”, completa Marnon. Para a terceira etapa do campeonato Sul Brasileiro, Marnon já estima um gasto que fique entre R$ 5 ou 6 mil reais “se não houver uma coisa mais grave”. O preparador de Zyon, Rodrigo Paixão de Lima, confirma a fala de Marnon: “Depende de cada um. Às vezes gasta bastante. é uma média de cinco ou seis mil por corrida”.
O empresário Sandro Antônio Jorge, pai de Gustavo Jorge, 9 anos, começou a correr de kart para acompanhar o filho. Os dois já estão no kart há dois anos e segundo Sandro, por mês ele gasta na mesma faixa que Marnon com os dois carros: “Se acaba gastando uns quatro mil por mês, com equipamento, óleo, combustível, com mecânico e tudo mais”. Por etapa esse valor sobe mais R$ 3 mil por etapa. Estes valores são para categorias como Mirim, para pilotos entre seis e oito anos, e a Cadete, para pilotos entre oito e 11 anos. Em categorias maiores, o valor cresce junto.
Para Vanderlei Canedo, preparador há oito anos, os custos de um kart em uma categoria como a Graduados B, os valores já são bem mais altos. Canedo prepara o kart do paranaense Jonathan Louis, o gasto “chega até uns R$ 15 mil por mês”.
Mas como pagar kart, pista para treinar, campeonatos, garagem, preparador, mecânico, viagens de um grupo de três ou quatro pessoas para as competições etc? Aí o leitor deve pensar: “Com patrocínio”!
É agora que entra uma figura importante, principalmente no início da formação destes futuros pilotos.
O PAITROCÍNIO
A prática aparenta ser bem comum, já que dos dois pais e dos três preparadores entrevistados pela reportagem da Revista Warm Up, quando surgiu a pergunta “Qual a maior dificuldade do kart?” todos foram unanimes em responder: “O patrocínio”.
Mesmo com internet, TV, rádio e outros meios de comunicação extremamente desenvolvidos no Brasil, o kart não aparece muito na mídia. Para Alencar, da Equipe Alenkart, e há 22 anos preparador de karts, esta falta de atenção da mídia é o principal motivo para a falta de patrocínios: “A divulgação que a gente tem em cima é muito pequena. Até o patrocínio não é fácil de você conseguir para o kart porquê não é divulgado. Se tivesse alguma rede de televisão ou outra coisa que fizesse uma cobertura em cima, ajudaria bastante. É uma coisa que se tivesse cobertura animava todo mundo”. Alencar completa falando do que acontece na capital paranaense: “Sempre tem pilotos bons em Curitiba. Curitiba é o lugar que já saíram muitos pilotos bons e hoje por falta de patrocínio e falta de cobertura da imprensa, tem muitos pilotos que poderiam se destacar. Todo pai tem que bancar e já fica difícil para os pilotos.”
Para Vanderlei Canedo o patrocínio traz sim mais dinheiro, mas “com o patrocinador sempre tem muita cobrança”. Já Marnon Andriguetto tem uma visão mais pessimista: “A turma vê o desportista como um vadio. ‘O cara não dá pra nada na vida’ vai para o esporte”. Por outro lado Marnon completa lembrando que o automobilismo não envolve apenas pilotos, mecânicos/preparadores e os pais: “Em volta disso tudo tem o veículo de impressa que divulga, existem revistas onde você põe o patrocinador, vários sites que tem espaço para um marketing. E a turma não vê assim, vê como: ‘Eu ponho minha marca lá e quem que vai ver’. Não é assim. Tem muita gente envolvida nisso”.
Quando a reportagem da Revista Warm Up perguntou para Alencar se algum piloto já tinha abandonado o kart por falta de dinheiro, o preparador respondeu um pouco decepcionado: “Olha, já tiveram muitos pilotos que aconteceu isso”.
Rodrigo Paixão de Lima e Alencar lembram que o futuro do esporte depende destes novos talentos. Alencar comenta que muitos pilotos saíram do kart e logo estavam correndo na Europa: “Tiveram pilotos daqui que em dois anos treinaram e disputaram campeonato e hoje já correm fora do Brasil na Fórmula 3 Inglesa. Se não passar pelo kart, não vai fazer nada, o kart é o que ensina”. Já Rodrigo pensa mais longe: “Esses meninos são o futuro do kart, futuros campeões e que um dia podem chegar a Fórmula 1”.
Alencar, o mais experiente entre os preparadores entrevistados ainda comenta que alguns pilotos mesmo correndo em categorias consideras principais, treinam na base do automobilismo: “A única coisa quê poderia melhorar em campeonato é ter um pouco mais de divulgação. É muito pouco divulgado. A cobertura da imprensa para os campeonatos de kart a gente quase não tem. E como o kart é a escola, quem começa no kart pode seguir carreira, pode andar em fórmula, pode chegar até a Fórmula 1. Tem pilotos de Stock Car que vem andar para pegar um pouco de reflexo. O kart é a base de tudo”.
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