Em janeiro de 2010, fiz esta entrevista com o piloto André Bragantini Jr. como parte do processo seletivo “O Grande Estagiário 4”. Acredito que poderia ter feito um texto de apresentação um pouco melhor, o que penso ter sido um dos motivos para não ter passado para a terceira fase da seleção, como ter fugido dos assuntos propostos na parte final da entrevista. Confira:
“Eu não considero que eu dei um passo atrás. [...] Hoje eu estou bastante feliz porque eu consigo fazer parte de um pessoal que está fazendo o seu nome dentro do Brasil.”
O encontro com o piloto André Bragantini Júnior aconteceu na academia em que ele realiza a preparação física para a temporada que está chegando. A entrevista, marcada por e-mail e confirmada por telefone, começou pontualmente às 16h do dia 26 de janeiro de 2010. Sempre muito simpático Bragantini respondeu as perguntas sobre a sua carreira, o automobilismo e sobre a doença que o acompanha desde os seis anos de idade e não o impediu de disputar em alto nível em diversas categorias do automobilismo nacional.
A Síndrome de Tourrete só foi diagnosticada em André Bragantini quando ele já tinha 23 anos e foi muito marcante para o piloto: “Isso foi muito difícil, principalmente na adolescência quando eu estudava ainda, com 13 ou 14 anos. Essa fase na escola foi bem difícil porque a garotada não perdoa”. Foi difícil porque a Síndrome, que recebe o nome do médico francês Gilles de la Tourrete, o primeiro a descrever a doença que afeta a parte neurológica em 1885, causa espasmos musculares e tiques de voz, que em alguns momentos acontecem ao mesmo tempo, e afetam consideravelmente a vida social do portador.
O quê um dia foi um problema para Bragantini, hoje é um exemplo de superação. Além de correr, André Bragantini dá palestras motivacionais para empresas onde ele aborda a doença, a vida dele e como ele está vencendo a síndrome.
A permanência nas categorias de turismo não atrapalhou o trabalho de Bragantini que não considera ter falta de sorte por não ter migrado para os monopostos. No currículo dele estão o Campeonato Campineiro e o vice do Paulista de Kart em 1990, Tricampeonato da Fórmula Fiat (1996,1997 e 1999), duas passagens pela Stock Car, na primeira com uma pole no ano de estréia, e um vice-campeonato da Copa Clio (2002) e da antiga Stock Light (2007).
VP – Fazendo a preparação para a temporada?
AB – Tem que fazer. Eu tenho uma grande expectativa para este ano.
VP – Você vai continuar na Copa Vicar?
AB – Não sei se continuo na Vicar. Eu estou com uma proposta para correr no Troféu Linea. Pode ser que eu corra no Troféu Linea, então eu estou analisando o quê é o melhor. Vamos ver o que eu consigo de patrocínio.
VP - Você é portador da Síndrome de Tourrette. Como foi conviver com a doença na infância - quando a síndrome começou a se manifestar?
AB – No começo foi bem difícil porque era uma coisa nova. Para os meus pais foi muito complicado porque até então eu ia em médicos, fazia um monte de coisas diferentes e não conseguia diagnosticar o quê era. Eu fui em tudo que é médico que você pode imaginar: neurologista, psicólogo, psiquiatra, tudo para tentar descobrir o quê era e a gente não conseguia descobrir. Eu só fui realmente diagnosticar o que realmente era a minha doença aos 23 anos de idade.
VP – Começou mais ou menos quando?
AB – Começou aos seis anos de idade e até os 23 anos eu não sabia nada da doença. Meus pais, no começo até pensaram que era algum tique nervoso, alguma mania. Mas é incontrolável, não conseguia controlar e a gente não sabia o nome, não sabia nada e isso foi muito difícil, principalmente na adolescência quando eu estudava ainda, com 13 ou 14 anos. Essa fase na escola foi bem difícil porque a garotada não perdoa. Nós tínhamos aquelas panelinhas e o pessoal tirava muito sarro e era complicado. Teve uma época bem difícil pra mim, mas depois eu fui aprendendo a superar e hoje está tudo bem.
VP – Em 2007, O síndico do prédio onde você morava pediu a sua saída do condomínio alegando que os tiques de voz incomodavam os outros moradores. Como você lidou com a situação?
AB – Não foi bem assim, ele não chegou a pedir para sair, mas ele me deu multa e advertências alegando que os meus barulhos não deixavam os vizinhos dormir. O que é meio irônico, porque enquanto eu estou dormindo eu não tenho nada e eu durmo na mesma hora que ele. A gente vê essas coisas acontecerem e nos perguntamos o porquê que as pessoas agem desta forma. Eu preferi, ao invés de procurar os meus direitos, me mudar para ter mais paz. A minha esposa sofreu bastante também, porque até então ela não sabia o porquê desta reação das pessoas. Até ela conseguir compreender que a gente tinha que passar por estas coisas era normal. Foi difícil. Então a melhor coisa foi ter me mudado e hoje eu moro numa casa que não tem problema, não tem a interferência de ninguém. Para evitar uma briga judicial ou alguma outra coisa, eu preferi me mudar e acho que foi a melhor coisa que eu fiz.
VP – A Síndrome de Tourrete ainda não tem cura, somente tratamentos para amenizar a intensidade e a freqüência que os tiques acontecem. Por quais tratamentos você já passou?
AB – Passei por diversos tratamentos, inclusive com medicações muito fortes, mas a melhor coisa que eu fiz foi a cirurgia que foi realizada no começo de 2008, em Goiânia. A cirurgia é composta de um marca-passo que vai dentro do meu peito e ele é ligado no cérebro através de dois eletrodos. Esses eletrodos têm a função de amenizar a Síndrome. Hoje eu estou mais ou menos 50 ou 60% melhor do que eu era. A síndrome era bem forte, me incomodava bastante, e já estava atrapalhando a minha saúde, o meu convívio social. Depois desta cirurgia as coisas estão melhorando bastante e devagar eu vou conseguindo chegar a um nível aceitável, que eu mesmo me sinto confortável.
VP – Agora você se sente muito melhor do que antes?
AB – Sim, muito melhor. A minha própria vida melhorou bastante, a minha saúde, melhorou tudo e hoje até mesmo no trabalho eu consigo me concentrar melhor e ter um foco melhor no automobilismo do que eu tinha.
VP – Quando você corre a intensidade da Síndrome diminui?
AB – Diminui em 80%. Já diminuía antes e hoje está melhor ainda, não tenho quase nada dentro de um carro de corrida. Pra mim é bem confortável.
VP – Por ser piloto e ter a Sindrome de Tourrete você dá palestras motivacionais para empresas. O que você aborda nestas palestras e qual é a reação das pessoas?
AB – As minhas palestras têm um foco motivacional. Nelas eu explico um pouco da minha carreira e conto um pouco da história da minha vida. Eu procuro mostrar para as pessoas que independente de qualquer problema que você tenha, como eu tenho uma síndrome, nós vemos deficientes físicos participando das paraolimpíadas e praticando esportes, isso mostra que as limitações não nos impedem de vencer na vida e conseguir conquistar os nossos objetivos. Eu procuro passar esta mensagem para as pessoas conciliando com o que eu faço profissionalmente. É muito engraçado porque no começo as pessoas, antes de eu começar a palestra, olham e eu percebo que elas pensam: “Quem é esse cara? O quê ele tem?”. Depois que a palestra termina você vê que a reação das pessoas muda completamente. Elas passam a admirar você por ver que você tem problemas na sua vida, mas que está lidando, e está se superando também, além de, no meu caso, competir contra outros pilotos dentro da pista, e até mesmo na sociedade a gente passa por diversos problemas e isso não impede de cada vez você estar conquistando os seus objetivos. É muito bacana porque sempre no final das palestras, eu principalmente, acabo tendo momentos muito felizes. Ver as pessoas emocionadas, gratas, até por estar passando uma mensagem que elas, muitas vezes, não se sentem a vontade. Em uma das últimas palestras que eu fiz tinha uma moça sentada a minha frente que durante a palestra eu vi que ela estava muito emocionada, ela chorava, e quando acabou a palestra ela veio agradecer porque ela tem um bebê de seis meses que sofreu um problema neurológico grave e ela não sabia como lidar com a situação. Depois que ela viu a palestra, aquilo serviu de motivação pra aprender a superar os problemas com o filho dela. Isso é muito emocionante, é muito gratificante. Acaba ajudando bastante as pessoas e eu sinto que estou contribuindo com alguma coisa dentro da sociedade, sinto que estou fazendo algum bem pelas pessoas, e me deixa muito feliz quando eu vejo que consigo ajudar as pessoas de alguma maneira.
VP – Em algumas categorias que passou, você foi campeão logo no segundo ano – como no Kart e na Fórmula Fiat. O caminho “natural” seria seguir para uma categoria de fórmula, o que faltou para seguir este rumo?
AB – Não sei se podemos chamar de sorte. Faltou um pouco de sorte no momento certo. As coisas não encaixaram. No final de 1997, eu fiz um teste na Inglaterra, de Vauxhall Júnior, e fui muito bem e para competir em 1998 faltou o tal do patrocínio. Eu não consegui levantar o patrocínio necessário para competir na Europa. No final de 1999, surgiu uma grande oportunidade de andar de Fórmula 3 com o Amir Nasr. Na época o patrocinador seria uma multinacional fabricante de pneus. O negócio estava bem encaminhado, praticamente tudo fechado, e essa empresa teve uma crise mundial e acabou fazendo com que eles tirassem os investimentos no automobilismo e acabou me prejudicando porquê foi numa fase que eu estava migrando para fórmula. E como o mais fácil era permanecer no turismo, até porque o meu pai sempre teve equipe de turismo, nós não conseguimos levantar o que precisava para andar de fórmula e eu acabei seguindo pelo turismo. Foi uma pena, porque eu acho que seria muito bacana para mim eu ter conseguido migrar, fazer esta passagem para fórmula, competir no monoposto, de repente, quem sabe, chegar perto da Fórmula 1 ou até mesmo na própria Fórmula 1. Mas não me arrependo de nada e a minha carreira no turismo acabou acontecendo de forma natural depois e isso só foi bom pra mim, conquistei muitas vitórias, títulos e isso foi tranqüilo também.
VP – Você já tinha destaque no turismo antes destas oportunidades?
AB – Sim. Eu já tinha o tricampeonato da Fórmula Fiat e eu estava indo bem, minha carreira crescia bastante. Eu não considero que eu dei um passo atrás. Acho que eu simplesmente segui onde tinha que seguir e continuei nas categorias de turismo e hoje eu estou bastante feliz porque eu consigo fazer parte de um pessoal que está fazendo o seu nome dentro do Brasil, e são poucos. Se for ver bem, são poucos os nomes que conseguem o sucesso e conseguem, hoje, estar em uma Stock Car, conseguem guiar em uma categoria como será o Troféu Linea. Se for somar isso tudo, hoje não temos no Brasil cem pilotos que tem essa oportunidade. Não chega a isso. Então fazer parte dessa elite é uma coisa que me deixa bastante contente.
VP – Os pilotos em geral procuram evitar usar o número 13 por superstição. No seu caso é diferente, você é um dos únicos que usa o 13. É superstição, como o Zagallo, ou tem outro motivo?
AB – Na verdade não é superstição. Eu simplesmente adoro o número 13. Na minha vida, tudo de bom aconteceu com o número 13. Meus pais casaram em uma sexta-feira 13, eu nasci em uma sexta-feira 13. Para mim, o 13 é o número da sorte, azar é para os outros. Eu não posso me queixar. Sempre que eu posso correr com o número 13 eu estou correndo. Uma vez na Stock Car, em 2003, eu corria com o Mauro Voguel, e ele detesta esse número. Nós estávamos em uma seqüência de maus resultados, de falta de sorte. Nós fazíamos treinos excelentes, classificações ótimas, sempre bem e chegava na corrida dava algum problema. Ele insistiu, insistiu e eu acabei mudando para o 67. Eu falei para ele: “Seis mais sete dá 13. Eu não vou abandonar o 13”. E bem nesta corrida que eu mudei, eu fiz a pole position na etapa de Brasília. Como que eu vou convencer o homem que o 13 dava sorte? Foi um fato engraçado. Sempre que eu posso usar o 13, eu estou com ele. Tudo o que eu conquistei de melhor na minha vida, os melhores resultados, foi com ele. Pra mim só da sorte. Eu não tenho nada para reclamar. Para mim dá muita sorte.
VP – Na sua primeira passagem pela Stock Car (2003 e 2004), você marcou uma pole logo no ano de estreia. No ano seguinte você se envolveu em um acidente muito forte com o paranaense Raul Boesel na etapa de Tarumã. Como foi esse acidente para você - afinal, você ficou algum tempo afastado das pistas - o acidente foi em “T”, que é o mais temido pelos pilotos?
AB – Esse acidente com o Raul Boesel foi o mais grave da minha carreira, foi acidente mais sério pelo que passei. Ali foi um momento que eu temi, eu realmente tive medo. Se eu posso dizer que em algum momento que eu tive medo no automobilismo foi nesse momento. Foi um acidente que eu ainda acho que poderia ser evitado. O Raul, pelo piloto experiente que já era, ele poderia ter evitado aquele acidente. Ele poderia não ter insistido na manobra. Mas hoje é passado e aquele acidente foi muito forte, meu pai estava perto do acidente, ele assistiu de camarote e para ele foi muito assustador. O acidente foi muito feio. Eu agradeço muito a Deus por não ter acontecido nada de grave comigo e eu ter saído ileso do acidente. Praticamente não tive nada. Tive apenas algumas escoriações, não quebrei nenhum osso, não fraturei nenhum membro, não me machuquei seriamente, mas tive que ficar afastado um mês para me recuperar das dores e para equipe recuperar o carro. Eu perdi uma corrida no campeonato por isso. Graças a Deus deu tudo certo e depois do acidente segui a minha carreira normalmente, não fiquei com nenhum trauma, não tive seqüela. Eu acho que faz parte. Uma vez meu pai me falou que, bem no começo, o que você não pode ter no automobilismo é medo, se você tiver medo de se acidentar é melhor você procurar outra profissão, é melhor você não fazer do automobilismo a sua vida, porque piloto não pode ter medo. E realmente não pode ter medo. Se tiver medo que algum acidente vai te acontecer, se tiver medo da morte, de se machucar, o automobilismo não é melhor esporte para você praticar porque é um esporte de risco, apesar de hoje termos muita segurança. Os carros e os equipamentos são muito seguros. É um esporte de risco e envolve o risco. Não tem jeito. Todo ano nós vemos acidentes graves acontecendo no mundo inteiro. Do acidente não ficou nenhuma seqüela e eu pude seguir a minha carreira normalmente depois e nenhum acidente mais grave voltou a acontecer.
VP – Não tem nenhum ressentimento com o Raul Boesel?
AB – Não tem nenhum ressentimento. Eu acho que o que passou, passou. Hoje a gente se cruza, nos cumprimentamos, conversamos normalmente e não tenho nenhum problema com ele. Pra mim, aconteceu, aconteceu e já é passado. O quê é ruim nós deixamos para traz e seguimos para frente.
VP – Em 2007 e 2009 você disputou o campeonato da Stock Car Light/Copa Vicar. No primeiro foi o vice e neste o sétimo colocado do campeonato no final da temporada. Qual delas você acha que foi melhor profissionalmente?
AB – A temporada que eu fui vice-campeão foi muito boa, foi uma temporada excelente, um ano que eu consegui três vitórias, o único piloto a repetir vitórias na Light em 2007. Foi um ano muito bom, muito legal pra mim. Esse ano agora foi muito bom, em termos de equipe, foi um trabalho de equipe muito legal, o trabalho com Rafael Daniel, com o Galid Osman e o Felipe Lapenna. Nós trabalhamos muito bem juntos. A equipe Full Time é extremamente profissional e eles me dão o suporte total. Ali tem pessoas muito competentes trabalhando. Uma equipe que tem uma mentalidade de equipe européia. O Maurício Ferreira, que é o chefe de equipe, trabalhou muito tempo na Europa e quando voltou de lá trouxe muita coisa. Ele é uma pessoa muito inteligente que conseguiu absorver muita coisa e conseguiu implementar aqui. Isso é muito legal e no ano passado faltou um pouco em algumas corridas. Teve corrida que faltou sorte, teve corrida que faltou equipamento, teve corrida que faltou um pouco de mim. Não conseguimos ter um ano regular. Mesmo assim consegui terminar em sétimo. A Copa Vicar é muito competitiva e tem muitos pilotos bons, que são rápidos e fortes. A categoria não é mais uma categoria de acesso, é uma categoria principal que nós conseguimos reunir grandes talentos e equipes altamente competitivas. A Copa Vicar é um ótimo preparo para pilotos e equipes que planejam um dia subir para a Copa Nextel e no ano passado nós conseguimos o campeonato de equipes. O Rafael foi campeão e nós coroamos um ano de trabalho muito bem feito.
VP– Em 2001, você participou de um campeonato de pick-ups. Neste ano acontece a fusão da Copa Vicar com a Pick-Up Racing. O que você acha desta junção?
AB – Eu acho que é muito bom reunir as duas categorias em uma. Com isso você atrai a atenção para uma categoria só. O problema quando nós tínhamos as duas categorias andando juntas é que tinha que dividir as atenções. Não é bom nem para uma e nem para outra categoria. Hoje não, vai ser uma categoria só de acesso com muitas equipes, muitos pilotos fortes e isso só vai fortalecer a categoria, não tem nada a perder. Eu acho que será muito bom, que vai ser ainda mais competitivo do que foi no ano passado. Acredito que será um ano muito bom para a Pick-Up e para a Stock Car que está com novos motores com etanol. A Stock Car só vem crescendo e está de parabéns.
VP – Ainda existe a possibilidade de você correr na Pick-Up?
AB – Existe a possibilidade e eu correr na Pick-Up, mas eu ainda tenho os estudos com o Troféu Linea. Estou tentando entre as duas e vendo qual é a melhor opção, o que pode ser melhor para a minha carreira e em breve eu devo ter uma posição, creio que em 15 dias, eu já devo estar com o futuro definido.
VP – Caso participe da Pick-Up, você acredita que terá alguma vantagem pela experiência que você teve antes?
AB – Não acredito. Eu acho que muitos pilotos que já corriam de Light, até pilotos que correram mais tempo do que eu na Light, vão continuar neste ano aqui. Vai ter muita gente competitiva, muita gente forte e vai juntar com os pilotos que vem da Pick-Up para essa categoria e vamos ter, pelo menos, uns 15 pilotos no grid em totais condições de vitória e pelo campeonato. Mesmo que eu vá competir na Pick-Up, eu não vou levar nenhuma vantagem e acho que será extremamente difícil e competitivo neste ano.
VP – Vamos mudar um pouco o assunto. Como piloto, você acha que a situação que temos na Fórmula 1 – o número de brasileiros crescendo – é uma realidade aqui no Brasil?
AB – Eu acho que a partir deste ano pode ser uma realidade. Finalmente teremos uma categoria de base de verdade, de fórmula. Nós estávamos muito mal com relação a categorias de monoposto no Brasil. Nós só tínhamos Fórmula 3 que é extremamente cara e não é um acesso, ela não é uma base para um piloto. O piloto que sai do kart tem que ter uma categoria um pouco mais fraca para aprender a disputar, para aprender como funcionam os acertos do carro, para ganhar experiência, e agora com a Fórmula Future, que vai correr com o Troféu Linea, que o [Felipe] Massa está trazendo, essa categoria vai servir como base para o automobilismo e eu acredito que agora os pilotos vão conseguir sair do kart, passar pela Fórmula Future para depois ir para a Fórmula 3 ou para uma categoria fora do Brasil. Os pilotos que saiam do kart hoje, tinham que procurar uma categoria fora. Só que quando você vai correr fora, você sofre com adaptação no país, sofre com alimentação, sofre com o problema de estar longe da família e por isso é muito difícil para o piloto ficar lá fora e continuar. Ele perde com escola, ele não pode continuar com os estudos. No Brasil o piloto continua estudando, junto com a família, tendo aquela base forte e creio que a partir deste ano nós teremos um número grande de pilotos com chances de chegar a Fórmula 1. Isso estava em defasagem no Brasil, não estávamos bem. Não é a toa que não víamos muitos brasileiros andando na Fórmula 1 nos últimos anos. Era o Rubens Barrichello e o Massa. Agora com a nova regra da Fórmula 1, de ter mais equipes, Lucas Di Grassi e o Bruno Senna estarem ingressando na categoria e tendo mais brasileiros lá e com essa categoria de base no Brasil, agora sim o automobilismo vai voltar aos velhos tempos e vamos ter pilotos com chances de chegar a Fórmula 1 algum dia como no final da década de 80 e início da década de 90, que foram as melhores épocas para o automobilismo nacional.
VP – Foi o que faltou quando a Fórmula Renault acabou?
AB – Exatamente. A Fórmula Renault foi uma categoria que serviu muito como base. A Renault e a Fórmula Chevrolet eram categorias que saia lá de baixo. Andava de kart e ia para uma Fórmula Renault ou Chevrolet e migravam para a Fórmula 3, ou uma categoria lá fora, e o piloto já vinha mais preparado. Quando nós perdemos estas categorias criou um buraco muito grande entre a base do kart e uma categoria de fórmula. Ainda bem que voltaremos a ter agora e acho que será muito bom para o Brasil de uma forma geral.
VP – O Lucas Di Grassi e a Bia Figueiredo começaram na Fórmula Renault.
AB – Exatamente. Eles corriam na Fórmula Renault na mesma época que eu corria na Copa Clio. Estávamos sempre juntos e eu vi esses meninos, como a Bia e o Lucas e outros, desde cedo e fico contente que com estas experiências que eles tiveram conseguiram chegar em grandes categorias. É só ver que o Lucas está na Fórmula 1 hoje e a Bia está prestes a sentar em um Fórmula Indy.
VP – Você acredita que com o estilo de pilotagem deles, eles podem correr bem?
AB – Acho que eles têm futuro. O primeiro ano é de adaptação e não tem que cobrar nada, não adianta cobrar, sei que o brasileiro é muito precipitado e já quer que o piloto chegue ganhando. Não adianta cobrar, é o ano para aprender, vai apanhar, vai tomar tapa na cara, mas tem que ser assim porque o piloto tem que aprender no dia-a-dia, na rotina, com os momentos difíceis e assim que o piloto cresce e aprende e eu acho que eles vão passar por isso neste ano, mas em breve vão dar muitas alegrias pra gente.
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